Todos os anos, as tendências do mundo corporativo para o próximo ano são discutidas, e muitas vezes essas previsões podem parecer recicladas e repetitivas. No entanto, 2023 traz especificidades interessantes e ousadas em suas tendências.
Os efeitos e lições aprendidas durante a pandemia, o avanço das novas tecnologias e a consolidação de uma visão progressista sobre o mundo do trabalho apresentam desafios e demandas interessantes para o universo corporativo neste novo ano.
Uma das tendências marcantes é a rejeição ao retorno total ao trabalho presencial, o que representa uma grande mudança nas estruturas das empresas. Esse cenário permite identificar claramente as empresas que conseguem manter uma abordagem saudável em relação ao trabalho.
Um levantamento realizado pela plataforma WeWork com oito mil profissionais de seis países latinos revelou que, antes da pandemia, o salário e os desafios do cargo eram os principais atrativos em uma vaga. No entanto, agora, a flexibilidade se tornou o fator mais atrativo. Trabalhar em esquema híbrido ou ter uma jornada de trabalho reduzida (por exemplo, 4 dias em vez de 5) estão no topo da lista de desejos dos funcionários em 2023.
Estudos demonstram abundantemente que a produtividade não está diretamente relacionada com a quantidade de horas passadas no escritório. Além disso, já se sabe que funcionários felizes tendem a apresentar um melhor desempenho. Os últimos anos promoveram uma mudança na forma como as empresas se organizam, e retornar ao modelo anterior seria um retrocesso. Portanto, é importante acompanhar as opiniões de especialistas e estudiosos da área.
Uma das previsões interessantes é a da designer organizacional Maíra Blasi, que enfatiza a importância do descanso, defendendo que ele é um direito e não uma recompensa. Ela lançou recentemente, junto com a consultoria 65|10, a Declaração pelos Direitos Descansistas, que reflete sobre a cultura do trabalho e incentiva a sociedade a refletir sobre esse tema.
Valorizar o descanso é algo que pode transformar positivamente o universo corporativo, que por muito tempo se baseou em premissas como “trabalhe enquanto eles dormem” ou preferindo aqueles que estavam totalmente focados no trabalho. Maíra defende que ter uma vida fora do trabalho, desconectar-se e ter outros interesses torna as pessoas (e, consequentemente, os funcionários) melhores. Empresas que não compreenderem isso podem acabar retendo apenas funcionários pouco criativos, estagnados, pouco inovadores e exaustos.
Outra voz relevante para o futuro do trabalho é o pesquisador especialista em novos modelos de gestão, Alexandre Pellaes. Ele apresenta uma perspectiva criativa e divertida, trazendo cenas hipotéticas de funcionários de empresas, especialmente da área de recursos humanos, onde ele possui experiência. Com humor e sátira, ele destaca os absurdos e as conquistas do universo corporativo.
Em entrevista à CNN, Alexandre destacou a necessidade de uma nova forma de liderança, que não concentre todo o poder. Além disso, ele enfatizou a importância de ouvir os funcionários, pesquisas e especialistas para não ficar para trás.
A consultoria Content.vc, liderada por Daniela Arrais e Luiza Voll, também traz um trabalho relevante ao abordar a nossa relação com a internet, especialmente considerando a confusão entre a vida pessoal e profissional. O excesso de conexão é um problema real e pode prejudicar até mesmo bons profissionais, resultando em uma “fadiga de disponibilidade”.
Com o início promissor de 2023, é o momento ideal para repensar os esquemas de trabalho, refletir sobre o descanso, o excesso de conexão, as cargas horárias e os esquemas flexíveis. Essas mudanças não se aplicam apenas às grandes empresas, mas também são relevantes para pequenos negócios e trabalhadores domésticos.